O anúncio de um crescimento de 4% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2024, motivo de celebração em alguns setores, precisa ser analisado com cautela. Embora o dado represente um avanço em termos de moeda local, a queda de 27% no dólar ao longo do mesmo período nos oferece outra perspectiva. Afinal, o PIB em dólares, amplamente utilizado para comparações internacionais, apresentou uma queda de 21%. Isso nos leva a uma reflexão: estamos realmente diante de um crescimento econômico ou de uma ilusão cambial?
A diferença entre o PIB medido em reais e em dólares não é meramente técnica. Ela reflete as complexidades de uma economia sujeita a flutuações cambiais, afetadas por fatores como política monetária interna, juros e o cenário global. A valorização do real em relação ao dólar, apesar de parecer benéfica à primeira vista, cria a falsa impressão de robustez, enquanto o país pode enfrentar desafios estruturais que permanecem inalterados.
Essa discrepância é especialmente preocupante para investidores estrangeiros, que analisam o PIB em dólar para medir o tamanho e o dinamismo da economia. Um PIB menor em moeda internacional reduz o apetite por investimentos no Brasil, impactando diretamente nossa capacidade de atrair capital externo e sustentar um crescimento de longo prazo.
A leitura isolada de um PIB em alta pode mascarar a fragilidade de nossa base econômica. O Brasil ainda enfrenta desafios como uma carga tributária excessiva, que inibe a competitividade das empresas, e uma burocracia tributária complexa, que dificulta o ambiente de negócios. Esses entraves estruturais limitam nosso potencial de crescimento real, independentemente das variações cambiais.
Portanto, é fundamental que o debate sobre o desempenho econômico do Brasil vá além dos números aparentes. A economia brasileira precisa de reformas profundas e um ambiente de negócios que estimule o investimento e a produtividade. A ilusão cambial não pode ser confundida com progresso econômico, sob pena de comprometermos nosso futuro.
Como advogado tributarista, testemunho diariamente os desafios que as empresas enfrentam para sobreviver e crescer em meio a uma legislação tributária arcaica. Precisamos de uma agenda que priorize não apenas números, mas também uma economia verdadeiramente sustentável e atrativa, tanto para brasileiros quanto para o mundo.