O assédio no ambiente de trabalho é um problema sério que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) realizou um levantamento, em 2023, com mais de 13 mil pessoas, revelando que 56,9% dos trabalhadores não se sentem protegidos no ambiente de trabalho. E de acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego, entre os assediados no espaço profissional, 80% são mulheres. E não para por aí, a consultoria Deloitte entrevistou mais de 5 mil mulheres, 500 delas no Brasil, para compreender a igualdade de gênero no mundo corporativo, a pesquisa mostrou que 49% das brasileiras estão preocupadas com a própria segurança em todo o âmbito de trabalho. Isso mostra que a conscientização sobre este tema é fundamental para promover ambientes de trabalho seguros, saudáveis e respeitosos.
A conscientização sobre o assédio no ambiente de trabalho ajuda a identificar e reconhecer comportamentos inadequados. Muitas vezes, as vítimas de assédio podem sentir-se desconfortáveis em denunciar o comportamento abusivo, por medo de retaliação ou de não serem levadas a sério. Ainda segundo o relatório da Deloitte, uma a cada quatro mulheres já sofreu assédio durante atendimento a clientes, isso é 24% das entrevistadas, 13% relataram assédio de colegas e mais 13% expõem situações em viagens a trabalho, portanto 40% das mulheres relataram assédio sexual, e 60% desse grupos atestaram não ter reportado o ocorrido. Além do ato direto, microagressões, consideradas como mansplaining e gaslighting, foram expostas por 35% das entrevistadas e 77% decidiram não denunciar os casos.
Portanto, ao promover a conscientização, as organizações e os colaboradores podem aprender a reconhecer os sinais de assédio e agir para interrompê-lo. Ainda assim, ela não é suficiente por si só. É fundamental que as empresas implementem políticas e procedimentos claros para lidar com casos de assédio quando eles ocorrerem. Isso inclui a criação de canais de denúncia confidenciais, a designação de pessoal treinado para lidar com essas questões e a garantia de que as vítimas de assédio sejam apoiadas e protegidas quando decidirem denunciar. Sem ações concretas, a conscientização pode ser apenas uma medida superficial que não produz resultados significativos.
Além disso, a conscientização sobre o assédio no local de trabalho deve começar desde o momento da contratação. Os colaboradores devem ser informados sobre as políticas da empresa relacionadas ao assédio, os comportamentos que são considerados inaceitáveis e os recursos disponíveis para denunciar estes casos. Isso ajuda a estabelecer expectativas claras desde o início e demonstra o compromisso da empresa em criar um ambiente de trabalho seguro e respeitoso para todos.
Outro aspecto crucial da conscientização é a educação contínua. As organizações devem oferecer treinamentos regulares sobre o tema, atualizando os funcionários sobre novas políticas, leis e melhores práticas para prevenir e combater o assédio. Esse investimento em educação não só ajuda a manter o assédio fora do local de trabalho, mas também fortalece a cultura de respeito e responsabilidade dentro da empresa.
É importante também destacar a necessidade de uma liderança comprometida com a eliminação do assédio. Os líderes da empresa devem ser exemplos de comportamento ético e respeitoso, e devem tomar medidas firmes contra qualquer forma de assédio que ocorra em suas equipes. Quando os funcionários veem que a liderança leva o assédio a sério e age de forma decisiva, eles se sentem mais encorajados a relatar incidentes e acreditam que serão apoiados.
Isto contribui para criar uma cultura de respeito e inclusão. Quando os colaboradores entendem o que constitui o assédio e como ele pode afetar as vítimas, estão mais propensos a agir de forma ética e respeitosa. Isso cria um ambiente onde todos se sentem valorizados e seguros para contribuir com seu melhor.
Além disso, a conscientização sobre o assédio no ambiente de trabalho pode ajudar a reduzir os custos para as empresas. O assédio pode resultar em altos índices de rotatividade de colaboradores, absenteísmo, queda de produtividade e litígios legais. Ao investir na conscientização e prevenção do assédio, as organizações podem economizar recursos e proteger sua reputação.
Em suma, a conscientização sobre o assédio no ambiente de trabalho é essencial para criar ambientes de trabalho mais seguros, saudáveis e produtivos. Ao reconhecer e combater o assédio, as organizações podem promover uma cultura de respeito, inclusão e igualdade, beneficiando não apenas os indivíduos, mas também o sucesso a longo prazo das empresas. Além de possibilitar um impacto positivo na sociedade em geral, ao promover uma cultura ética e inclusiva no mundo corporativo, as organizações podem influenciar outras instituições e comunidades a adotarem práticas semelhantes. Isso cria um efeito multiplicador, onde os valores de respeito e igualdade são disseminados além dos limites da empresa, contribuindo para uma sociedade mais justa e inclusiva como um todo.
Patricia Punder, advogada e compliance officer com experiência internacional. Professora de Compliance no pós-MBA da USFSCAR e LEC – Legal Ethics and Compliance (SP). Uma das autoras do “Manual de Compliance”, lançado pela LEC em 2019 e Compliance – além do Manual 2020.
Com sólida experiência no Brasil e na América Latina, Patricia tem expertise na implementação de Programas de Governança e Compliance, LGPD, ESG, treinamentos; análise estratégica de avaliação e gestão de riscos, gestão na condução de crises de reputação corporativa e investigações envolvendo o DOJ (Department of Justice), SEC (Securities and Exchange Comission), AGU, CADE e TCU (Brasil). www.punder.adv.br