Por Aisla Carvalho
Tempos estranhos.. sombrios.
Desde que o invisível e devastador vírus da Covid-19 ultrapassou fronteiras e ceifou quase 15 milhões de vidas, o Mundo mudou.
Forçados a nos adaptar a uma nova realidade, formos compelidos a nos reinventarmos. A criar novos hábitos. E, adoecemos?!
Para Tedros A. Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, o impacto da Pandemia na saúde mental do mundo é “apenas a ponta do iceberg”.
Por certo, o período de isolamento resultou não apenas em uma sociedade mentalmente doente, mas, também, no crescimento da violência. Os meios de comunicação nos revelam isso diariamente.
Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, no ano de 2022, foram ceifadas pelo simples fato de serem mulheres, 1.400 vidas. Este número é o maior registrado no Brasil desde que a Lei de Feminicídio entrou em vigor em 2015.
O aumento da violência também foi sentido nas Escolas. Estudos realizados após o retorno das aulas presenciais confirmam que 97,7% dos educadores avaliaram que os alunos estão mais violentos e o quanto isso tem impactado no aprendizado.
Com o fim do isolamento, os índices de óbitos em razão de homicídios, acidentes de veículos e suicídio, contribuíram para o registro do janeiro mais mortal, desde o início da série histórica do Brasil em 2003.
O número de mortes por causas violentas cresceu 81% em 2022.
Na última semana o país viveu um dos dias mais tristes da nossa história: a tragédia ocorrida na creche municipal de Blumenau-SC. A morte prematura das 4 crianças acendeu um sinal de alerta, e a necessidade de ação para proteção das escolas, visando discutir e combater a violência escolar.
Nesta terça-feira (11/04/2023) um adolescente de apenas 13 anos foi apreendido após esfaquear duas colegas de escola no interior de Goiás. O menor trazia consigo estilete e uma machadinha.
Sem mencionar que tais tragédias ocorreram doze dias após um aluno de 13 anos matar a facadas uma professora em São Paulo-SP.
Como bem pontuou Roberta Fonseca: “Não dá mais para esperar repetições de Blumenau, Suzano, Aracruz, Realengo, Vila Sônia. Ou enfrentamos essas chagas ou vamos continuar a chorar a morte de nossas crianças.”
Outra notícia que impactou a sociedade brasileira, é a do bebê de apenas 3 meses de vida, morto por asfixia mecânica na última sexta-feira em São Paulo-SP. Suspeita-se que a mãe da criança seja a responsável pelo crime macabro.
Indubitavelmente, assiste-se a um processo de adoecimento do homem.
Estudos confirmam que a vivência da Pandemia da Covid-19 desencadou alterações na saúde mental da população brasileira em geral, e que o retorno da vida em sociedade vem sobrecarregado de fatores de estresse, ansiedade e depressão.
O ritmo frenético tem tornado as pessoas cansadas demais para se importar e ver o outro, para pensar no outro. Percebe-se então uma sociedade refém do cansaço, o que resulta em mais violência. Uma sociedade do silêncio, da vida feliz na internet, do isolamento mesmo pós Pandemia. Um modo de vida vazio e sem sentido.
Em verdade, a violência no país cresceu de forma significativa.
Como causas, além do impacto da Pandemia na saúde mental, podemos citar também as desigualdades socioeconômicas, a falta de oportunidades à população mais pobre, e a ausência ou inadequação das políticas públicas sociais e de segurança promovidas pelo Estado.
Esperancemos por dias melhores, por mais saúde, e por mais amor ao próximo.
Aisla Carvalho é Advogada Criminalista. Escritora. Palestrante. Conselheira Seccional da OAB/RO. Conselheira Superior da ABRACRIM Nacional. Membro da Comissão Especial de Processo Penal – OAB Nacional. Ex-Presidente da Associação Brasileira dos Advogados Criminalistas em Rondônia- ABRACRIM-RO. Ex-Presidente da Comissão de Direitos Humanos (OAB/RO/VHA). Ex-Presidente da Comissão da Mulher Advogada (OAB/RO/VHA). Pós-graduada em Direito Penal e Processo Penal com ênfase em Tribunal do Júri, pela Faculdade Candido Rondon (FCR). Pós-Graduada pela Escola da Magistratura de Rondônia – EMERON. Pós-Graduada em Direito Civil e Processo Civil pela UNIRON.
Referências:
Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP);
https://www.paho.org/pt/noticias/2-3-2022-pandemia-covid-19-desencadeia-aumento-25-na-prevalencia-ansiedade-e-depressao-em
https://bvsms.saude.gov.br/saude-mental-e-a-pandemia-de-covid-19/
https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2022/08/para-658-dos-professores-alunos-estao-mais-violentos-apos-pandemia.shtml
https://www.correiobraziliense.com.br/brasil/2022/02/4985172-numero-de-mortes-por-causas-violentas-cresce-81-em-2022-no-brasil.html
https://www.correiobraziliense.com.br/brasil/2022/02/4985161-cartorios-registram-janeiro-mais-mortal-da-serie-historica-no-brasil.html
https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2023/04/09/mae-presa-matar-filho-3-meses-asfixiado-sp.htm?cmpid
https://www.correiobraziliense.com.br/opiniao/2023/04/5085575-analise-a-tragedia-de-blumenau-e-um-pedido-de-socorro-do-nosso-sistema-educacional.html
https://www.google.com/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=&ved=2ahUKEwiL6a_f3Z3-AhXnlZUCHWXyDvMQFnoECAgQAQ&url=https%3A%2F%2Frevistas.face.ufmg.br%2Findex.php%2Frahis%2Farticle%2Fview%2F6626%2F3529&usg=AOvVaw1d55qInhCi1kddSnIvRpLU
https://www.amazonamazonia.com.br/2021/11/27/uma-sociedade-doente/