Sergio Bermudes: o homem por trás do mito

Por Leonardo de Campos Melo

Quando se fala em Sergio Bermudes, as palavras saem grandes. Gigante da advocacia. Exímio processualista. Grande professor. Ele era tudo isso e muito mais. Convivi com ele por 13 anos. O homem por trás do mito era maior.

Teve formação esmerada. Leu – e assimilou na prodigiosa memória – os grandes clássicos em prosa e verso, a que fazia referência em seus escritos, palestras, aulas e bate-papos. Dominava a ciência do Direito. Era dotado de inteligência invulgar. Notabilizou-se pela rara conjunção de cultura, carisma, eloquência e oratória, conhecimento jurídico e domínio da língua. Esta, na sua pena, era instrumento e arte. Suas petições emprestavam vida e cores à mais desinteressante das disputas.

A grande advocacia demanda presença. Também aqui se destacou, construindo relações de respeito e admiração com interlocutores de todos os níveis. Acumulou incontáveis amizades. Corajoso e audacioso, nunca hesitou em enfrentar quem fosse. Assim no caso Herzog, o mais emblemático de sua carreira, e assim em tantas outras ocasiões. Até com Donald Trump, seu vizinho de prédio em Nova York, em episódio prosaico, andou se estranhando.

Destacou-se em tudo o que fez. Não à toa, foi protagonista do cenário jurídico nacional por tantas décadas. Poucos advogados foram tão procurados e disputados. Contemplou em vida a própria glória.
Bermudes fez escola. O Escritório que ostenta o seu nome é um celeiro de talentos. Nele atuam e por ele passaram muitos grandes nomes da advocacia contenciosa brasileira.

Era muito humano. Falho como todos. Reconhecia fraquezas e buscava em Deus acolhimento e misericórdia, convicto de que a Ele se reintegraria após a transitória passagem pela terra (palavras dele). Generoso, ajudou e transformou inúmeras vidas.

Tinha muitas paixões – pela vida, pelas pessoas, pela cultura, por seu ofício, pela justiça. Viveu e sofreu intensamente.

Trabalhador incansável. Extremamente exigente. Duríssimo em suas reprimendas. Mas muito afetuoso. Hoje, mais maduro, o compreendo melhor: só exige tanto quem enxerga potencial e acredita que o outro pode ir mais longe.

Sua sala, sempre de portas abertas, era o coração do Escritório e ponto de encontro obrigatório. Lá, alternavam-se discussões sobre causas, ligações atravessadas, inúmeros “causos”, interrupções sem fim, piadas, gargalhadas e broncas desconcertantes. Sem ordem certa. Sobre a sua mesa, uma placa em latim com a convocação de Paulo: “Saudai-vos uns aos outros com ósculo (beijo) santo”. E todos o cumprimentavam com um beijo no rosto, simbolizando amor fraternal e unidade. O recinto era a quintessência da “experiência Bermudes”.

O que fica de Sergio? Uma presença que não se esvai. Saudade que ainda aperta. Gratidão. E o compromisso de honrar a sua memória.

*Leonardo de Campos Melo é advogado especialista em contencioso judicial e administrativo estratégico e em arbitragem, e Sócio-fundador do escritório LDCM Advogados – leonardo@ldcm.com.br

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