Por Thacio Chaves
O Golpista do Tinder, documentário produzido pela Netflix e que começou a ser exibido nesta última semana, tem ganhado repercussão pelos detalhes de como o israelense Simon Leviev conduziu mentiras para roubar mais de 10 milhões de dólares de suas vítimas. Se passando por um bilionário, ele conseguia convencer mulheres que conhecia por meio do aplicativo a emprestarem dinheiro e cartões de crédito que serviam para ostentar uma rotina de luxo envolvendo outras vítimas. A pergunta que fica é: Quais lições o golpista do Tinder dá às empresas?
O estelionatário, que foi preso após a denúncia de uma de suas vítimas, já está livre e ostentando uma vida de riqueza. O curioso é que somente após a grande repercussão do documentário é que o aplicativo baniu Leviev e, enquanto ele resgatou sua rotina sem nenhuma dificuldade, as mulheres enganadas seguem endividadas tentando recuperar suas perdas.
E nas empresas, você conhece realmente com quem trabalha? Se fizermos um paralelo do Tinder com um currículo, podemos questionar se as áreas responsáveis pelo recrutamento e seleção fazem, de fato, uma análise das pessoas que contratam. Levando em consideração que muitas empresas deixam de revelar as fraudes cometidas por seus colaboradores pelo interesse de blindarem suas marcas, cabe a quem está contratando realizar uma pesquisa minuciosa de quem vai compor seu time.
Como orientação, uma primeira medida é realizar o background check, ou seja, levantamento de informações por meio de pesquisa a fontes públicas e abertas para conhecer informações e vivências pregressas do profissional e que confirmem dados apresentados em seu currículo ou apresentem novos elementos relevantes.
O background check é uma metodologia que funciona como se fosse um retrovisor, que vai ajudar a enxergar todo o histórico do candidato, ajudando a entender a trilha do passado da pessoa e o risco reputacional que ela representa. Como exemplo, é importante analisar os processos que a pessoa já teve, assim como seu posicionamento em redes sociais para checar se possui um perfil diferente do que a empresa almeja faz parte deste processo. Milhares de fontes podem e devem ser consultadas.
O outro passo é analisar a flexibilidade moral deste candidato e entender como ele se comporta diante de dilemas éticos do dia a dia e se esses são coerentes com o que prega a empresa. Neste caso, o processo envolve uma entrevista especializada, mas não para entender o passado, mas sim do futuro, visando avaliar o que uma pessoa faria numa determinada situação. Combinada com o background check, essas metodologias oferecem uma ferramenta poderosa para traçar o perfil completo de um candidato.
Fazendo um paralelo com a história do golpista, que se vendia no aplicativo de uma forma atrativa para mulheres em busca de um parceiro, o currículo tem o mesmo mecanismo, sendo o interesse aqui alçar uma vaga almejada pelo candidato. No Tinder, você pode colocar qualquer informação, assim como num currículo. Cabe aqui a atenção para que as empresas não invistam em contratação, treinamento e desenvolvimento com pessoas que não têm o perfil de seu negócio ou que não são o que dizem. Vale esse cuidado para as organizações não serem enganadas como as mulheres do Tinder. Talvez com essas precauções as corporações possam ter precaução e entender quais lições o golpista do Tinder dá às empresas.
Thacio Chaves é diretor da Aliant, plataforma de soluções digitais para Governança, Riscos, Compliance, Cibersegurança, Privacidade e ESG, uma empresa do Grupo ICTS.
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