Na contramão das boas práticas de Governança Corporativa, menos de 25% das franqueadoras dispõem de Conselho Consultivo, aponta sondagem informal
Por desconhecimento das vantagens de ter profissionais sêniores como conselheiros ou imaginando que isso exija um alto investimento, muitas empresas deixam de optar pela estratégia, que pode fazer a diferença na valorização e expansão da marca
Uma sondagem informal realizada pelo escritório Novoa Prado Advogados – um dos mais respeitados e influentes do sistema de franchising – apontou que menos de 25% das franqueadoras dispõem de Conselhos Consultivos. “Não nos espantamos com o resultado de nossa pesquisa interna, mas ficamos preocupadas em saber que as franqueadoras contam tão pouco com essa ferramenta, tão importante para a Governança Corporativa”, diz Melitha Novoa Prado, advogada especializada em Direito Empresarial, com ampla atuação em varejo e franchising.
Nas franqueadoras, segundo a especialista, o Conselho Consultivo tem a mesma função que tem em outras empresas: a de reunir profissionais independentes, com grande experiência diversificada, que tragam uma visão mercadológica estratégica para a empresa, com a finalidade de apontar caminhos que a valorizem e ampliem a sua atuação no mercado. “Esse olhar de fora permite o aprimoramento de melhores práticas, porque há mais pessoas capacitadas refletindo estrategicamente sobre o negócio”, explica Melitha.
Concorda com ela sua sócia, Thaís Kurita, que também atua como advogada de franqueadoras há mais de 20 anos. “Percebemos que muitas franqueadoras pensam que ter um Conselho Consultivo é algo que só é possível para grandes empresas, para multinacionais, o que está longe de ser verdade. Para um sistema de franquia, o seu tamanho radial torna a empresa tão grande quanto essas empresas. Assim, lançar mão de uma ferramenta que ilumina, que tira muitas vezes uma visão míope ou viciada do empresário, pode fazer toda diferença. Pensar como os grandes é um bom exemplo a ser seguido, não acha? E isso é possível, porque o investimento com um Conselho multidisciplinar não é nada assustador, muito porque esse Conselho se reúne, em sua maioria, uma única vez ao mês”, comenta
Como escolher os profissionais para um Conselho Consultivo?
Thaís Kurita e Melitha Novoa Prado, especialistas que acompanham as principais franqueadoras brasileiras há 30 anos, veem nos Conselhos Consultivos uma forma de ampliar as melhores práticas, com excelente relação custo-benefício
Melitha diz que um Conselho Consultivo deve ser formado por profissionais que possam trazer ao negócio competências complementares. “É importante que aquele grupo funcione bem junto. Os Conselhos mais eficientes dos quais já participei eram compostos por profissionais intergeracionais e diversificados, que viveram experiências distintas, mas que trabalhavam bem juntos”, diz a profissional, que há 32 anos advoga para as principais franqueadoras brasileiras, é conselheira formada pelo IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa e atua em conselhos de alguns órgãos institucionais de grande impacto.
Ela acredita que, também, os perfis possam ser escolhidos conforme o plano estratégico da empresa, já que é possível haver rotatividade entre os conselheiros, conforme o andamento do processo. Se, por exemplo, a franqueadora deseja ampliar o número de unidades franqueadas, é interessante ter profissionais que entendam do mercado em que ela atua; do varejo, de forma ampla; de gestão de redes; de relacionamento entre franqueador e franqueados; que tenha alguma experiência em concorrentes, entre outras características. Franqueadoras que desejam ampliar a atuação internacional, por outro lado, podem incluir profissionais com essa vivência. “O franqueador deve ter claro o seu objetivo e escolher os conselheiros que mais o ajudarão a estruturar melhor suas ideias”, aconselha Melitha.
Thaís Kurita lembra que o Conselho Consultivo exerce quase o papel de uma mentoria, sendo bastante diferente de um Conselho Administrativo. “Os conselheiros consultivos não estão lá para prestação de contas e avaliação de balancetes. Eles ajudam na estratégia”. Ela também alerta para o fato de que esse conselho não tem nenhuma relação com o Conselho de Franqueados. “O Conselho de Franqueados é composto por franqueados que representam seus pares e que, juntos, administram o fundo de propaganda da marca, entre outras atribuições. Essa instituição é importante, mas não tem qualquer relação com as ações estratégicas da franqueadora”, ensina.
Para finalizar, Thaís Kurita e Melitha Novoa Prado dizem que as franqueadoras que têm Conselhos Consultivos conseguem se estruturar muito melhor e crescem de forma ordenada. “Marcas como Casa do Construtor utilizam essa estratégia há mais de uma década e são referência no mercado. É altamente aconselhável que todas as franqueadoras, mesmo as pequenas e estreantes, determinem uma verba para a contratação de conselheiros, porque esse investimento pode significar uma economia de tempo e um avanço enorme para seus negócios”, finalizam as especialistas.