Na segunda metade do mês de janeiro, duas advogadas, mãe e filha, quase sofreram um golpe envolvendo a imagem e a voz de uma delas. Karla e Hanna, respectivamente, foram vítimas de chamadas de vídeo que visavam o recebimento de dinheiro por meio de uma história falsa.
O caso, ocorrido em Brasília, teve como alvo a mãe, Karla, que recebeu uma ligação de Hanna logo após ela sair para o trabalho. Com a ajuda de uma inteligência artificial, os criminosos se passaram pela filha, com imagem e voz idênticas, para solicitar uma quantia em dinheiro, com transferência por PIX.
Segundo Karla, sua suspeita começou quando percebeu que a roupa da filha não era a mesma com a qual ela teria saído para o trabalho momentos antes, quando houve falhas na sincronização entre vídeo e voz e quando o pedido de transferência era direcionado à conta de uma amiga, ao invés de sua própria. Além disso, alguns comportamentos mais específicos chamaram a atenção da advogada, como apelidos não usados no trato entre as duas e com a falta de conhecimento de perguntas simples, como o nome dos cães e do vizinho, algo que Hanna saberia.
Para o advogado, especialista e professor da Jus Expert, Dr. Gleibe Pretti, “Os riscos de golpe com o auxílio das novas tecnologias cresceram muito nesses últimos anos. Até 2022, 2023, a inteligência artificial era vista como uma ferramenta que ajudaria as pessoas e poderia servir para algumas tarefas a mais. Com o tempo, artes e imagens passaram a ser mais difíceis de identificar as diferenças e os vídeos deram um salto de qualidade gigantesco. Há poucos meses atrás, uma montagem dessas feita por IA seria facilmente pega, algo banal. Agora, alguém que não esteja atento ou não conheça os avanços tecnológicos cairia facilmente em qualquer tipo de golpe”.
Pouco tempo atrás, e após o golpe contra as advogadas, na cronologia dos fatos, o apresentador Ratinho teve sua imagem “roubada” para uso criminoso. Na ocasião, o vídeo creditado a ele falava sobre o “Resgate da Prosperidade”, com o objetivo de enganar o público geral e fazer com que o maior número de pessoas possível fosse lesado.
Por ter uma abrangência muito maior, e poder enganar uma parcela da população que não tem conhecimento de todo esse movimento criminoso, é mais simples conseguir o dinheiro, mas os riscos são tão grandes quanto, devido ao tamanho da exposição.
Por mais que sejam casos com potencial jurídico, as pessoas não precisam esperar chegar nesse ponto para ter um parecer sobre algo, ainda mais quando envolve familiares ou a própria imagem. Por mais que sejam vídeos com grande manipulação e ferramentas extremamente atualizadas, um especialista em documentoscopia pode analisar o caso e dar o devido parecer ao solicitante.
“O que pouca gente percebe é que um vídeo é composto por uma variedade de fotos. Nesse campo profissional, cada foto pode ser chamada de quadro ou frame, a depender do idioma usado, mas com ambos sendo reconhecidos aqui. Tendo isso em vista, cada foto pode ser manipulada, e, nesse caso, é, para que a visão entenda de forma diferente o ocorrido no resultado final. Uma boa experiência é ver um bloco com desenhos levemente diferentes entre si ser visto em alta velocidade. Para nós, o nosso cérebro transforma em um vídeo, mas pode ser filme, jogo, animação. Dessa forma qualquer alteração poderia mudar a história contada pelos desenhos. Com as imagens, mudanças significativas em todas elas fariam o mesmo. É nesse ponto que o perito entra em cena e ratifica a veracidade, ou não, do documento”, complementa Pretti.