Por André Naves (*)
A solidariedade, isto é, a percepção de pertencimento à grande família humana – que nos torna único em nosso conjunto -, é um sentimento inato a todos nós, pelo simples fato de sermos humanos. É daí que decorrem nossos valores éticos, os direitos humanos, o pendor democrático e o respeito à dignidade humana. Em outras palavras, podemos repetir, inspirados em Kant, que a pessoa humana é digna por ser uma finalidade em si mesma.
Prova dessa solidez humana é o encontro, em todas as culturas e religiões, por mais díspares que sejam, de ensinamentos similares. Um exemplo é a parábola do “bom samaritano” em que todas as personagens são apresentadas conforme suas características: os passantes, o samaritano, o estalajadeiro… menos aquele que precisava de socorro e jazia desfalecido na estrada. Ele é anônimo!
O ensinamento é claro: na necessidade, somos todos iguais. É preciso socorrer a quem precisa, sem olhar para suas colorações ideológicas, religiosas, raciais, sexuais. Todos, igualmente, estão sujeitos a enfrentar intempéries, obstáculos e barreiras. Todos precisamos de ajuda! Todos podemos, e precisamos, estender a mão!
Ao mesmo tempo, as calamidades, das mais diversas, acontecem. Antes de apontar o dedo e apurar responsabilidades, é necessário dar um basta ao sofrimento das vítimas. Há um ensinamento rabínico, para citar um exemplo, que diz que as calamidades e injustiças também são obras da Criação. Elas servem para despertar e estimular o mais importante aspecto, muitas vezes dormente, da Humanidade: a Solidariedade. É por isso que a dor e o ranger de dentes sempre vêm acompanhados da mão amiga, da filantropia, do acolhimento.
Entretanto, não é necessário o advento do desastre para que floresça a ajuda humana. Assim como a prevenção é a melhor maneira de se combater as doenças, a melhor maneira de se evitar as injustiças e exclusões humanas é por meio do trabalho de todos, com disciplina, perseverança e alteridade, em favor da construção de estruturas sociais sustentáveis, inclusivas e justas!
*André Naves é Defensor Público Federal, especialista em Direitos Humanos, Inclusão Social e Economia Política; Conselheiro do grupo Chaverim; Autor do livro “Caminho – A Beleza é Enxergar”.