O compartilhamento de notícias de política está menos frequente em grupos de família, de amigos e de trabalho no WhatsApp. Além disso, mais da metade das pessoas que participam desses ambientes dizem ter medo de emitir opinião. A constatação faz parte do estudo “Os Vetores da Comunicação Política em Aplicativos de Mensagens”, divulgado nesta segunda-feira (15).
O levantamento foi feito pelo centro independente de pesquisa InternetLab e pela Rede Conhecimento Social, instituições sem fins lucrativos. A pesquisa identificou que mais da metade das pessoas que usam WhatsApp estão em grupos de família (54%) e de amigos (53%). Mais de um terço (38%) participam de grupos de trabalho.
Metodologia da pesquisa
As informações foram coletadas de forma online com 3.113 pessoas com 16 anos ou mais, de 20 de novembro a 10 de dezembro de 2024. Foram ouvidas pessoas de todas as regiões do país.
Medo de opinar sobre política
A pesquisa identificou que há receio em compartilhar opiniões políticas. Pouco mais da metade (56%) dos entrevistados disseram sentir medo de emitir opinião sobre política “porque o ambiente está muito agressivo”.
Foi possível mapear que essa percepção foi sentida por 63% das pessoas que se consideravam de esquerda, 66% das de centro e 61% das de direita, demonstrando que o fenômeno transcende as divisões ideológicas e afeta todo o espectro político.
Relatos dos participantes
“Acho que os ataques hoje estão mais acalorados. Então, às vezes você fala alguma coisa e é mais complicado, o pessoal não quer debater, na verdade, já quer ir para a briga mesmo”, conta uma mulher de 36 anos, de Pernambuco.
Os autores do estudo afirmam que se consolidaram os comportamentos para evitar conflitos nos grupos. Essa autocensura representa uma mudança significativa na forma como os brasileiros se relacionam com temas políticos em ambientes digitais privados.
Implicações para o debate democrático
O estudo levanta questões importantes sobre a qualidade do debate público no Brasil. A redução das conversas políticas em espaços privados de comunicação pode indicar tanto um cansaço com a polarização quanto uma preocupação com a manutenção de relacionamentos pessoais e profissionais.
Especialistas apontam que, embora a redução de conflitos seja positiva, a autocensura generalizada pode empobrecer o debate democrático e dificultar a formação de consensos sobre temas importantes para o país.
Contexto da polarização política
O fenômeno observado pelo estudo ocorre em um contexto de intensa polarização política no Brasil, especialmente após as eleições presidenciais de 2022 e os eventos do 8 de janeiro de 2023, que marcaram profundamente a sociedade brasileira.
A pesquisa sugere que os brasileiros estão adotando estratégias de autopreservação, preferindo evitar temas políticos a enfrentar possíveis conflitos em seus círculos sociais mais próximos.



